terça-feira, 2 de julho de 2013

você pode tomar banho de chuva, mas não corra

you should like it
- mas eu não
why not
- não sei

continue,

estava de tocaia, desde o amanhecer,
vigiou o relógio (quais as últimas notícias?)
nada que lhe agrade,
vista-se conforme o tempo - e se o dinheiro for suficiente:

compre: COMPRE: compre:

mais roupas
aparelhos eletrônicos
botas de couro
(e uma pontinha daquela  ideia de se tornar vegetariano,
mas não nessa vida,
nessa espera-se outro tipo de ideia vigente)
bolsas
e mais eletrônicos
pacotes de viagens para todo o ano
e aquele seu amigo,


compre os seus amigos

compre: COMPRE: compre:

como uma tinta fresca que escorre na parede e o  máximo que se pode fazer é aparar com o pincel é desenhar uma outra coisa improvisadamente, essa é a técnica extraordinária do rascunho literário (já saiu uma vez em alguma revista literária que ninguém leu)

sms:

 você tem esparadrapo? me cortei
está sagrando muito?
não muito
ali naquela gaveta do banheiro, a última
vamos ao cinema hoje
amo! <3 p="">[ela disse, naquele bilhete esquecido no banco de trás do carro do amigo:

te amo,
você é linda, em todos  os aspectos,
mas a minha loucura pôs tudo a perder
- ou estou sendo romântica além da conta? -

estamos tentando mudar o modo como o ocidental lê os textos, mas sempre será da esquerda para a direita?
sim, primeiro a esquerda, mas no final, direita,
da esquerda para direita


o que ele disse sobre os noticiários?
- de hoje alguma coisa me chamou atenção: a apresentadora fez questão de dar um forte abraço de aniversário na doméstica, e dizer que eram muito amigas, há muito tempo

(um prazer, trabalhar aqui contigo! durante todos esses anos, viu?

GOLPE

(um prazer ter você como minha amiga

GOLPE

(obrigada pelo esforço que vocês desenvolveram até aqui, esperamos que possam contribuir mais ao longo de todo o período

GOLPE DOS MAIS BAIXOS

(estamos sem dinheiro no caixa, você sabe como que são as coisas, não vai dar pra cobrir as despesas e, por isso, se você não se incomodar, eu vou tirar do teu

CU,

pode ser?

Claro, fique perfeitamente à vontade, estamos aqui para doar os nossos respectivos cus para que vocês tirem lá de dentro tudo o que for suficiente para cobrir os CUstos. E mais: ficamos muito felizes por ajudar. Tudo o que permita a esse país a esse povo se tornarem mais cultos, mais eficientemente letrados, preparados, e que tudo seja feito para esse fim tão nobre, tão valoroso pelo qual você vem lutando esses anos todos... mas você não acha que deveria, pelo menos, usar roupas mais humildes, sapatos mais gastos, enfim, você não acha que é melhor, antes que eles desconfiem e saiam por aí dizendo

OS NOSSOS DIREITOS!!!!

não acha?, viu como a apresentadora se agarrou àquela pobre negra dizendo que as duas eram amigas de longa data? Entendeu? É bom que você, inclusive, fique um pouco em casa, saia menos, gaste menos, antes que desconfiem que - você sabe, as pessoas desconfiam, e elas podem começar a cercar a sua casa, os seus passos, começar a pesquisar o diâmetro do seu pescoço, e zás!

hoje em Curitiba as roupas eram insuficientes para tanto frio, se for preciso: fique em casa, mas seja produtivo:

um psicanalista que está desaparecendo

Acorda de manhã, sente o pau um pouco duro ao amanhecer (isso talvez seja bom!). Nenhuma revolta. Talvez devesse ser um pouco maior, talvez. Mas não pensa. Ele é suficiente, assim como as roupas que veste para aquele dia serão suficientes, pois faz frio e não quer sentir que falhou em escolher a roupa ao sair de casa de manhã. O chão do banheiro é frio. Encolhe os dedos dos pés e a sensação chega a reverberar nas linhas da testa. Olha-se no espelho. Sente-se um pouco ridículo. Todas as manhãs, é costume que ele se sinta um pouco ridículo. E ao longo do dia será um grande esforço para que essa sensação se desfaça. Desprenda-se dele. É assim que se lembra das primeiras aulas, ainda no curso de graduação. Um vídeo que mostrava pessoas famosas afirmando o quanto se sentiam ridículas. É preciso ser um gênio para se deixar filmar confessando-se ridículo:

"Sinto-me tão ridículo que o que me resta é tentar criar alguma coisa para esquecer ou, pelo menos, acomodar em algum canto da alma essa sensação, que também não deixa de ser ridícula." (Le Courbusier, talvez)

Gostava do tempo em que era clássico e ao mesmo tempo moderno ler o jornal da manhã (edição impressa, diga-se) enquanto tomava o seu café. O virar das páginas monstras o tornavam obsoleto para o dia, obsoleto para vida, ultrapassado como a própria palavra "obsoleto" o era. O fato é que, se o sujeito está vivo, é preciso que isso se justifique pelos seus atos ou pela culpa que sente por não agir. A respiração um pouco ofegante marcavam o compasso do andar lento e curvado. Um homem magro:


É isso que ele é: Um homem magro!



Não se esquece de pegar a caneta. É que não precisa mesmo. Há muitas canetas no consultório. E o que afinal anotar? Deveria usar alguma agenda eletrônica. Tantos botões a serem apertados durante o dia. Quando era criança, ouvia nos noticiários que bastava que UM homem apertasse UM único botão e tudo ia pelos ares. E quando fumou o primeiro baseado, quando perdeu a virgindade com aquela amiga gorda e quente, quando decidiu que era viado e que gostava mesmo era de uma boa benga, quando afirmou para o seu pai que iria se tornar psiquiatra, quando decidiu adotar um filho com o seu companheiro. Não era simples assim para UM único homem. Havia muitos botões. E todos eles gritando:



sua senha, por favor, senhor.


Mas tudo bem. Tudo bem. Dentro do carro era quente e poderia ligar o aquecedor e ficar mais quente. Ligar o som e ficar mais quente. Passar a mão ao longo da gravata e ter a certeza de que é um homem ajustado dentro do limite do que pode fazer pela própria vida. Está tudo perfeitamente bem. Freia bruscamente quando percebe que estava a ponto de ultrapassar o sinal vermelho.

(Você pode ser mais tranquilo, mais gentil para com aqueles que você colocou no alto pedestal dos deuses,)