segunda-feira, 27 de outubro de 2014

alhures

e hoje, ao passar
por aqui e por ali
encontramo-nos com outros
logo antes mesmo de sairmos de casa
outros estavam por aqui e por ali
subiam pelas pernas
escondiam-se atrás dos pelos
agarravam-se à curva magra do joelho
e os dedos cravados
afundavam pelas coxas
subiam com toda vontade
até pendurarem-se aos pentelhos
e adentrarem os buracos
nadavam por dentro de nós
corriam pela corrente sanguínea
aceleravam o ritmo do coração
e um vento louco tangia
as ideias para um e outro lado
logo ao sair e passar por eles
os outros, tantos
desviei meus olhos torpes de medo
guardei em segredo as mãos frias
os fios de cabelos brancos
crescendo lentos e supersticiosos
diante dos outros pelas ruas
crentes do mesmo horror antigo
fingiam-se conhecerem-se
tocavam-se distraídos
na verticalidade angustiante
do elevador
na saliva grossa
formando nos cantos da boca
no esbarrar de braços e pernas
entre as portas de entrada e saída
os outros todos os outros
e a pressa urgente de estar sozinho
pesava nos ombros tanto meus
quanto de todos os outros