quarta-feira, 4 de março de 2015

ofícios

Na cidade do interior
Havia um velho que pagava aos jovens
Rezava os santos ofícios de olhos fechados
Cabeça voltada para o céu
E o corpo todo num balanço divino
A cada trecho em que a oração avançava
Lembrando da noite anterior
O menino cavalgando seus quartos desmantelados
As mãos firmes de dedos longos nos quadris flácidos
Onde andava Deus quando brotou
Essa vontade dentro dos olhos do velho
Ao avistar os meninos soltos no tempo
A camisa largada num lado do ombro
E o peito liso e aberto mirando o eterno?
Onde andava? Fazendo meninos tão anjos, tão finos?

E rezava rezava, rezava e pensava
Ele o velho, pai de mil filhos com seus também filhos

As senhoras correndo as contas de terço
com as pontas dos dedos
Subiam o coro de vozes
Isso era à tardinha, quando o sol se encolhia
Pois na madrugada, todos sabiam
Vigemaria! O que é que sabiam?
Que o velho, esse mesmo, dava o cu por rede
E aos sábados enchia-se na feira
Um tanto de jovens tão fortes, ativos
Mostrando para a venda
As redes mais belas, de punhos bem fortes
Bordado em varanda e boa fundura
A roda girava tão alta e ligeira
Mas daqui do solo ela mal se mexia
E a vida seguia, levando e trazendo
Os maus todos vivos e os bons falecendo